domingo, 8 de março de 2020

                                                         O Ancião e o Malassobro:
                                                             Poeta: Desconhecido.

 Um certo dia um idoso
Vagando pela estrada
Encontrou pra seu repouso
Uma casa abandonada
Uma porta semiaberta
Que alguém deixou na certa
Por medo de assombração
Dava constantes rangidos
Se comparando a gemidos
Dentro dessa habitação

Sentou na velha calçada
Para descansar os pés
Viu numa data gravada
Mil novecentos e dez
A data coincidia
Com os tempos que vivia
Dias felizes e risonhos
Lembrou-se do destino errante
Vi que o tempo é um gigante
Que se alimenta de sonhos

Aquilo fez que ele visse
Quanta contrariedade
A dos tempos da velhice
Pra os tempos da mocidade
Enquanto na juventude
Se goza boa saúde
Amizade e atenção
Quando a velhice aparece
Tudo que mais se conhece
É desprezo e solidão

Ficou ali meditando
Enquanto a tarde passou
Sentiu o clima mudando
Assim que á noite chegou
Diminuiu o mormaço
Foi aumentando o cansaço
No seu corpo decadente
Acho até que o vento frio
Trazia aquele vazio
Que a solidão dar na gente

E o idoso entrou na casa
Em meio a escuridão
Ouviu algo bater asa
Lá pro lado do oitão
Então um galo contou
A brisa fria soprou
De novo a porta rangiu
Em meio aquele rangido
Bem perto de seu ouvido
Alguém deu um assoviu

Virou-se, mas não viu nada.
Se arrepiou por inteiro
Olhou até na calçada
Se havia alguém no terreiro
Mas enquanto procurava
Notou que não se tratava
De alguém desse nosso plano
E o idoso disse bem
Já não falta mais ninguém
Zombar de meu desengano

Fui desprezado dos meus
Sempre procurei o bem
Quem pode mais do que Deus?
Uma voz disse ninguém
Sou somente um malassombro
Que trago sobre meu ombro
O pecado da avareza
Tanta inocência minha
Passei a vida todinha
Correndo atrás de riqueza

Sou preso a esse ambiente
Por causa de meu tesouro
Esperando algum vivente
Que se interesse por ouro
Devo doar ouro e cobre
De preferência a um pobre
Rico de humanidade
Pra usar da melhor forma
Que quase ninguém transforma
Dinheiro em felicidade

Disse assim o ancião
Pobre alma tão sombria
Dai esse tesouro a mim
Pra ver se tenho alegria
Quando a velhice chegou
Meu povo me abandonou
Então vagueio sozinho
Por aí feito um estranho
Só eu conheço o tamanho
Das pedras do meu caminho

A solidão me consome
Não sei com que me assemelho
Ninguém lembra mais meu nome
Todos me chamam de velho
Eu me pergunto calado
Se o que eu fui no passado
Não tem mais nenhum valor
Se tudo só presta novo
O que será desse povo
Sem respeito e sem amor

Pra que um sonho de glória
Vivido na juventude
Correndo atrás de vitória
Abrindo mão da saúde
Pra que criar um legado
Em busca de um resultado
De tantos tempos de luta
Pra cair na decadência
Pra que tanta experiência
Se ninguém mais me escuta

Ancião minha riqueza
Não curou teus desenganos
Tu partilhas da tristeza
Da maldade dos humanos
Que se esqueceram de Deus
E tratam comumente os seus
Como lixo na estrada
Desprezado e ocioso
E como se um idoso
Não servisse mais pra nada

Prossiga no seu caminho
Der a vida algum motivo
Te vejo ó meu velhinho
Como um malassombro vivo
O tempo é como uma fera
Quem faz o mal nunca espera
Como é que o futuro vem
Não te reclamas só reza
O povo que te despreza
Serão idosos também

Ouvindo tudo calado
Aquele pobre ancião
Sentiu que estava fadado
A morrer na solidão
Com um aperto no peito
Lembrando o que tinha feito
Na sua época passada
Retornou o seu caminho
E nunca mais viu-se o velhinho
Na casa velha da estrada








                                       

Um comentário:

  1. Boa noite amigo então já podes editar o autor deste poema é o grande poeta Marquinho da Serrinha em Pernambuco .

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