domingo, 26 de abril de 2020

                                                    MOTE: Se o boi manso falasse ele dizia
                                                          Quando dói a chibata do carreiro
                                                          ESCREVEU: Davi Calisto Neto

O boi manso é tratado com desprezo
Seu trabalho não é remunerado
No serviço do carro ou do arado
Ele é destinado a levar peso
No trabalho pesado é indefeso
Mesmo sendo um serviço costumeiro
Seu lazer é viver no tabuleiro
Numa vida que não tem regalia
Se boi manso falasse ele dizia
Quando dói a chibata do carreiro

Quando o carro no boi é atrelado
Com a canga montada em seu pescoço
O ferrão que lhe fura o couro grosso
Pelo o dono o boi é avisado
Quando o som do cocão é entuado
Que o boi vai seguindo o seu roteiro
Sem ter como cobrar o financeiro
No trabalho que faz no dia A dia
Se o boi manso falasse ele dizia
Quanto dói a chibata do carreiro

Se o boi manso falasse ia dizer
Essa canga está me machucando
Esse peso que eu estou levando
Com certeza você sente prazer
Eu lhe peço não deixe eu sofrer
Que eu sempre supri o seu seleiro
Trabalhando eu fui o seu parceiro
Não me venda, não faça covardia
Se o boi manso falasse ele dizia
Quanto dói a chibata do carreiro.

O boi manso escrevo do seu dono
No trabalho forçado do roçado 
Quando é velho ele fica descartado 
Vive o resto da vida no abandono 
O boi manso devia ter o trono 
Por do homem ser sempre um companheiro 
Exercendo um trabalho de guerreiro 
O seu dono apoiá-lo deveria 
Se o boi manso falasse ele dizia 
Quando dói a chibata do carreiro 

Apesar do boi manso ser cativo
O seu dono devia protegê-lo
Depois de ficar velho não vendê-lo 
Não usar de espírito primitivo 
Descartá-lo sem ter nenhum motivo 
É do dono um gesto de grosseiro 
Quem viveu sua vida em cativeiro
Sem jamais ter direito a mordomia 
Se o boi manso falasse ele dizia 
Quanto dói a chibata do carreiro  

                                                      MOTE:  Hoje colho amargo fruto
                                                                   Que no passado plantei
                                                               ESCREVEU: Davi Calisto Neto

Nos tempos da mocidade                                         
Eu bebi fui explosivo
Hoje me sinto cativo
Perdi minha liberdade
Sofro de ansiedade
Devido o que eu pratiquei
Se fui feliz eu não sei
Por ter sido absoluto
Hoje colho amargo fruto
Que no passado plantei

Perdi as noites de sono
Em busca de bacanais
Fui parar nos hospitais
Hoje vivo no abandono
O meu passado eu detono
Por eu saber que errei
O futuro que imaginei
Não me deu nenhum desfruto
Hoje colho amargo fruto
Que no passado plantei

Você vive do que planta
Está na Bíblia sagrada
Se você não planta nada
Faltará almoço e janta
Nem toda colheita é santa
Foi isso que observei
Quem colhe fora da lei
É maligno esse produto
Hoje colho amargo fruto
Que no passado plantei

Para se colher o bem
Tem que regar a semente
Pois o homem inteligente
Nunca faz mal a ninguém
Porque o mal sempre vem
Para o vassalo e pro Rei
Quem faz o mal eu notei
Não tem direito a induto
Hoje colho amargo fruto
Que no passado plantei

Plantei para que eu colhesse
Coisas boas no futuro
E me sentisse seguro
Quando eu envelhecesse
Pra que eu não padecesse
No que eu me dediquei
As lágrimas que eu chorei
Não fosse lágrimas de luto
Hoje colho amargo fruto
Que no passado plantei

Mote: El Gorrión
Escreveu: Davi Calisto