Eu vim morar na
cidade
E deixei o meu
sertão
Porque não tive
opção
Dentro da
realidade
Mesmo na
prosperidade
Eu precisei me
render
Sem poder me
defender
Da violência
instalada
Deixei a minha
morada
Pra vim pra rua
sofrer
O sertão onde eu
morava
Era bom que dava
gosto
Porque a lua de
agosto
O meu rancho
clareava
Na hora que eu me
deitava
No meu leito de
amor
A brisa com seu
fulgor
Meu rosto
acariciava
E eu baixinho
rezava
Agradecendo ao
senhor
Quando a matina
rompia
Eu estava me
levantando
Ouvia o gado
berrando
No amanhecer do
dia
Meu rosto com
água fria
Eu na cocheira
lavava
Uma vaca eu
desleitava
Pra beber o leito
puro
Eu achava que o
futuro
Com o presente se
encontrava
Depois saia pra
roça
Montado no meu
cavalo
O trabalho era um
regalo
Mesmo estando de
mão grossa
Essa alegria
nossa
Com o tempo foi
mudando
O progresso foi
chegando
Com ele a
televisão
Mudando a
concepção
De quem morava em
palhoça
A televisão
mostrava
A mulher ser
desleal
E a cara do
marginal
Que com frieza
matava
Como é que
assaltava
Ela também exibia
A juventude
assistia
Tudo aquilo que
passava
Quem era bom não
guardava
Porém o ruim
aprendia
Aí lá no meu
sertão
Começou aparecer
O filho não mais
querer
Do pai a sua
benção
Porque na
televisão
Tudo isso ele via
Achando que a
fantasia
Fosse à realidade
Começava a
liberdade
Se tornar em
rebeldia
Não quero culpar
ninguém
Pela tecnologia
E dizer que hoje
em dia
Não estou vivendo
bem
Porém o progresso
tem
O seu lado negativo
Pois torna o
homem cativo
Pelas suas
invenções
Vivendo sem
emoções
O que tem de
positivo
Na cidade é
diferente
A dormida e o
viver
Porque ninguém
quer saber
Quem está triste
ou contente
Não tem quem
visite a gente
Para a gente
conversar
Cada uma vai pra
um lugar
Só se pensa em
diversão
Assistir
televisão
E ver o tempo
passar
Deixei meu sertão
amado
Das fogueiras de
São João
Das festas de
apartação
De quadrilhas e
reisado
Mungunzá e milho
assado
Da canjica e da
qualhada
Da pamonha e
carne assada
Arroz doce e
rubacão
Do mocotó com
pirão
Arroz de leite e
buchada
Hoje eu estou
dividido
Entre o campo e a
cidade
Porque a minha
vontade
Era viver
protegido
Estou vivendo
escondido
Sem mandar no que
é meu
O bandido serei
eu?
Que estou nesta prisão
Sem ter
absolvição
Meu Deus o que
aconteceu
O bandido hoje é
munido
De armamento
moderno
Anda vestido de
terno
E o cidadão
desprovido
O homem bom
escondido
O bandido na
berlinda
Quando é que isso
se finda
Eu estou pedindo
socorro
Atrás da justiça
eu corro
Mas aqui não
chegou ainda
Sei que morro na
cidade
E não volto pra o sertão
Por isso que a
solidão
O meu coração
invade
Pois não tenho
liberdade
Por causa da
violência
A Deus eu peço
clemência
Para que haja
justiça
Que diminua a cobiça
E me der mais existência
Adeus Sertão que
eu amei
Terra onde eu fui
nascido
Porém estou
proibido
De relatar o que
eu sei
As lágrimas que
eu derramei
Foram secas pelo
chão
Dentro da minha
emoção
Eu tentei me
controlar
Se eu só penso em
voltar
Por que saí do Sertão?
Autor: Davi
Calisto Neto.
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