Eu pretendo lembrar o meu
passado
Quando era menino e bem feliz
A brincar entre os montes e
alcantis
Esse tempo de mim foi
afastado
Meu avô que me amou foi
sepultado
Para mim ficou tudo diferente
Procurei do futuro ser
vidente
Mas o meu prognóstico é sem
conceito
Vou abrir a cancela do meu
peito
Pra passar a boiada do
repente
Eu recordo a primeira
namorada
A paixão que eu tinha era incontida
Para tê-la arriscava a
própria vida
Sem saber que ela estava
apaixonada
Ao beijar sua boca
avermelhada
Eu sentia uma coisa diferente
Ela ali nos meus braços bem
contente
Possuí-la eu não tinha esse
direito
Vou abrir a cancela do meu
peito
Pra passar a boiada do
repente
Quando eu era menino na
fazenda
Campeava o gado aboiando
No cavalo de pau que estava
andando
Não usava nem cela e nem
estenda
Minha avó com os birros a
fazer renda
Com as pernas escoradas no
batente
O meu pai nesse tempo era
contente
Pois os filhos aos pais
tinham respeito
Vou abrir a cancela do meu
peito
Pra passar a boiada do
repente
No passado eu vivi as
alegrias
Natural de que tem a pouca
idade
Porém hoje ao chegar terceira
idade
Foram desfeitas as minhas
fantasias
Hoje eu sinto que minhas
regalias
Para mim já não é mais
coerente
Pois que tem minha idade é
mais prudente
A viver bem pertinho do seu
leito
Vou abrir a cancela do meu
peito
Pra passar a boiada do
repente
Hoje em dia eu estou me
perguntando
Onde está o meu tempo de
criança
Mocidade que hoje com
lembrança
Eu lamente e vejo se passando
O futuro que está me
esperando
Hoje está muito longe do
presente
No trajeto onde eu fui
sobrevivente
Para mim eu trilhei tudo
direito
Vou abrir a cancela do meu
peito
Pra passar a boiada do
repente
Do alpendre da casa onde
eu morava
Avistava ao longe uma
cancela
Que meu pai ao passar
batia nela
Porque ela no chão já
imperava
Meia lua no chão ela
marcava
Pela mesma não abrir mais
de repente
Seu rangido se encontra em
minha mente
Eu tentei esquecer, mas
não tem jeito.
Vou abrir a cancela do
peito
Pra passar a boiada do
repente
Autor: Davi Calisto Neto
Antônio Martins-RN,
13/04/2007
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